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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Educação Especial: Deficientes Intelectuais

Vou relatar uma história verídica, de fé, amor e dedicação...


Há mais ou menos 19 anos atrás fui convidada pela diretora D. Elizabeth a assumir a Classe Especial na Escola Estadual Professor Joaquim Silvado. De imediato disse: “Não”! Mas com muito jeito ela insistiu, insistiu até eu aceitar. No principio afirmei que iria tentar. Hoje vejo que essa foi a minha feliz e acertada hora em decisão profissional.
Não tinha experiência nenhuma, “apenas” o curso de Pedagogia, somente um ano de experiência no magistério e muito amor, vontade e dedicação para trabalhar.
Naquela época tão apenas os corajosos e os que realmente amavam o magistério permaneciam com a Educação Especial.
“Desistir”!!!. Realmente diversas vezes pensei. Derramei muitas lágrimas, minha família que o diga...
Mas como poderia desistir, virar as costas para aqueles crianças e adolescentes, me acovardar diante dos acontecimentos!... Pois era isso que eu queria e precisava ajudá-los!!!
Foi quando resolvi: vou resistir!!! Para isso mudei meu jeito de agir. Decidi que deveria sim tomar uma atitude, ler mais sobre o assunto, fazer cursos e assumir uma posição na qual tentaria com muito amor, dedicação e carinho ajudá-los, juntamente com suas famílias.
A Classe Especial funcionava às duras penas solitariamente, no quartinho do dentista, realmente segregados, onde piadas entre os colegas da Unidade Escolar eram constantes...
Alunos com graus de deficiência bastante considerável, com idades discrepantes e todos na mesma sala o período todo com a mesma e “solitária” professora.
Palavras, discursos... Perdem-se ao vento, mas ações, atitudes, trabalho, dedicação, compromisso... Ficam!
Esses singelos e poderosos gestos ficam no resultado de todo quando é feito com amor altruísta!
Ficam nos pais que ontem desacreditados nos filhos, hoje podem com orgulho ver a mudança nessas crianças.
Ficam nos passos de alunos que não andavam ao iniciar a Classe Especial, alunos esses que se arrastavam pelo chão.
Ficam nos alunos que hoje sabem se sentar a mesa comer com talheres, se despem, se masturbam no lugar correto e na hora certa.
Ficam nas lágrimas doloridas das mães que todo dia eu presenciava, de ver a mudança de atitude de seu pequeno, que antes gritava, se jogava no chão, agredia sem motivo e hoje... Um moço carinhoso, educado, responsável, sociável....
Ficam nos sorrisos de várias crianças, adolescentes, pais que não esperavam nem mesmo o filho pudesse aprender a escrever seu próprio nome e hoje é capaz de muito mais...
Ficam muitos sonhos realizados pelo aluno Tiago com também Distrofia Muscular. E da aluna Marta que participaram de todas as atividades dentro e fora da Sala.



Hoje, eles se encontram com Papai do Céu e nas doces lembranças em meu coração. Também a saudade e grandes lições de vida que aprendi com eles, e a felicidade de saber que ajudei e fiz parte de muitos sonhos.
Ficam a gratidão das famílias por terem proporcionado não somente aulas, mas ensinamentos e de ter feito parte da pequena história de seus filhos enquanto estiveram na Terra.
Ficam de pais sedentos, perdidos, não sabendo o que fazer e encontra no fim do túnel uma esperança, uma chance de integrar!
Incluir seu filho na sociedade como um todo, na medida do possível, é o mínimo que nos educadores podemos fazer.
Ficam amizades... Lições.... Exemplos... Sentimento de dever cumprido e por toda eternidade, carregarei com carinho dentro do meu coração.
Ficam jovens estagiárias que antes temiam e desconhecia o trabalho feito na Educação Especial e após passarem pela Classe Especial, hoje é uma das minhas colegas de trabalho pois como eu, se apaixonaram e hoje estamos juntas escrevendo uma nova história da Educação Especial...
Quantas frustrações, lágrimas, atitudes tomadas sem poder compartilhar, que no final deram certo. Esse é o melhor resultado final.
Hoje a Educação Especial mudou, evoluiu muito, continua progredindo, já não trabalhamos segregados, sem apoio, sem equipamentos, sem orientações...
Hoje a Educação Especial faz parte da Unidade Escolar, onde o aluno com Necessidades Especiais é de responsabilidade de todos nós, indistintamente.
O maior orgulho não é ter no currículo uma baita lista de cursos (não que isso não seja importante), mas o mais fundamental é ter a metodologia e a didática do amor, gostar realmente do que faz.
Gratidão de pais, sorriso no rosto de quem um dia só sabia chorar... Jovens hoje incluídos na sociedade fazem reconhecidos depoimentos amorosos a respeito do meu trabalho. Agradecimentos a Deus por ser tão maravilhoso comigo e das amizades que fiz nas Unidades Escolares por onde eu passei.
Creio que ali foi plantada e regada a semente de amor e esperança... E muitas flores nasceram, renasceram e outras crescerão...

Obrigada a todos que me apoiaram e contribuíram, direta ou indiretamente para que eu aprendesse e crescesse mais e mais como ser humano...

Educadora: Adinalva Araújo Lages.

Um comentário:

  1. Parabéns Prof. Adinalva pela sua força, você faz a diferença com sua lição de vida.

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